Candy Caldwell
[Secção pensamentos soltos] Passava num dos corredores de uma das escolas e ouço no meio do reboliço: “Olha, sabes que mais? Mata-te!”, dito de forma banal, até em jeito de aparente brincadeira. Pode-se incluir em expressões que se ouve e lê com muita frequência (também em muitos comentários on-line): “Mata-te”, “morre”, “ se não conseguires isto, mato-te”, “nem devias ter nascido” etc. Tenho pena que não se meça, ou se aprenda a medir bem a força das palavras. Quando se começa a roubar legalmente (e isto de roubo legal está também a ser muito comum) gente que tudo perde, quase a vida, para fugir da morte, “algo vai mal no reino da Dinamarca”. No fundo, é outro modo de dizer “morre, desaparece, não te quero na minha vista confortável e provocas-me medo porque não és dos meus”. Hoje é dia de recordar muitos que morreram de forma tristemente banal, onde alguém decidiu, de forma legal, tirar-lhes a dignidade da existência, tipo “Olha, sabes que mais? Morre!” por serem judeus, negros, ciganos ou homossexuais. Poderíamos incluir os que foram assassinados, entre outros, pelos khmers vermelhos no Cambodja, por usarem óculos, serem de outra nacionalidade ou religiosos. Há dias que é de dizer, com preocupação e arrepio: mundo estranho, este. Foi com ar de estranheza que olharam para mim quando lhes disse: “e se todos os pedidos se realizassem e ele se matasse mesmo?” Pois, as palavras, junto com as acções, têm força de tirar ou renovar a dignidade. Seria bom que se seguisse sempre a renovação.
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