Pooyan Shadpoor
“P. Paulo, já alguma vez acordou sem querer acordar?” A história que acompanhava era forte e dura. Diante desta pergunta, voltei a muitos momentos em que não era simplesmente a preguiça que me impedia de levantar. “Que me faz sair da cama?” Sentia-me a enrolar, nessa tentativa de voltar ao útero para nascer outra vez, evitando que o novo dia de cansaço, de tristeza, de revolta, começasse. Sim, conhecia bem a sensação de que me falava através daquela pergunta. Apercebeu-se do meu pequeno silêncio, antes de dar a resposta que se enchia de empatia. “É duro, não é? Parece que não nos conhecemos. Parece tudo ridículo. Sim, já senti o frio de alma, ficando nesse fechar de corpo, aceitando a transformação que acontecia. E não, não temos de ser felizes a todo o momento. Há gritos que têm de ser dados. Há dores que têm de ser enfrentadas. Numa parte só connosco, noutra em partilha com quem nos acolha sem julgar.” Vi como se emocionava. “É possível o amor fazer sofrer tanto?” “Não, o amor não faz sofrer, só faz crescer. O que faz sofrer é a incompreensão, o desapego sem porquê, a ilusão e a desilusão. Por isso, quem ama, diante do engano, tem de passar pela revolta, sim. E o revolver também ajuda a centrar e a fazer caminho de cabeça erguida… e a nascer outra vez, em que se acorda para novos horizontes.”
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