momento de Nelken
[Secção “outros tons”] Tenho o quarto voltado para um pátio interior. Os pássaros soam. Apenas lá longe ouço carros a passar. Nem parece que vivo em Paris. É estranho o contraste com o que ainda me ecoa de Nelken. Esta coreografia de Pina Bausch tem mais de 30 anos. Nos seus cravos perfeitamente alinhados, dá-nos um lugar quase idílico. Pouco a pouco as emoções afloram, tocando mais ou menos subtilmente a história de cada um e, de algo modo, a universal. Entre gritos, sorrisos, latidos, passaportes, batatas e cebolas, cadeiras e caixotes, os gestos dos bailarinos são tão firmes a contar algo de entranhas. Dificilmente se explica, apenas se sente. Se em Nelken busca-se lógica, com argumentos perfeitamente alinhados, vai haver desilusão, absurdo, estranheza, incompreensão… praticamente o mesmo que se vive, por exemplo, diante da tortura e do sofrimento que muitos passam. E o estranho mesmo, tão paradoxal: as estações do ano seguem harmoniosamente o ritmo.
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